O termo “Câncer de Cabeça e Pescoço” abrange em geral os tumores malignos que acometem a boca, a faringe, a laringe e seios da face. Os tumores de pele da face e pescoço, das glândulas salivares e da tireoide possuem fatores causais e comportamento diferente, sendo considerados separadamente. Os tumores malignos dos lábios têm comportamento semelhante ao câncer de pele da região.
Quanto aos primeiros, nota-se uma importante associação com hábitos de vida, especialmente tabagismo e abuso de bebidas alcoólicas. Fumantes apresentam risco cerca de 10 vezes maior de desenvolver câncer nessa região e quando associado ao uso frequente de álcool esse risco pode quadruplicar. Má nutrição e obesidade também são fatores relacionados, além de histórico familiar de casos de câncer de cabeça e pescoço, esôfago e pulmão e exposição a alguns agentes físicos e químicos.
Alguns tumores – especialmente da região da faringe – podem ter uma forte associação com exposição ao vírus HPV, o que pode ser comprovado por análise imuno-histoquímica no material de biópsia e tem importante impacto no diagnóstico e na escolha do tipo de tratamento, uma vez que em geral tem um melhor prognóstico.

Os sintomas dependem da região acometida, podendo alguns tumores se desenvolver sem sintomas por longo período de tempo.
Em geral podemos considerar como sintomas precoces:
- Lesões (feridas) na cavidade oral que não cicatrizam por mais de 15 dias, que podem apresentar sangramento e crescimento
- Manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca ou bochechas
- Nódulos (caroços) no pescoço
- Rouquidão persistente
- Dor associada à mastigação ou deglutição, às vezes difícil de localizar ou irradiada para ouvido ou face e pescoço
Nos casos mais avançados podemos observar:
- Dificuldade para mastigar e engolir
- Dificuldade na fala e para respirar
- Sensação persistente de que há algo preso na garganta
- Dificuldade para movimentar a língua
- Perda de peso e do apetite
- Dor intensa que não responde a analgésicos comuns
O diagnóstico é realizado pelo exame loco-regional de cabeça e pescoço, que inclui exame de toda a cavidade oral, faringe e palpação do pescoço e quando necessário complementação com exames endoscópicos (nasofibrolaringoscopia, videolaringoscopia, endoscopia digestiva alta) e de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, PET-CT). A biópsia vai comprovar ou não a natureza maligna e o tipo de tumor.

O tratamento é sempre multidisciplinar, sendo importantes a seu tempo e de forma coordenada a intervenção do Cirurgião de Cabeça e Pescoço, do Oncologista Clínico, do Especialista em Radioterapia além da participação de Nutricionista, Fonoaudiólogo e Fisioterapeuta na adaptação e reabilitação.
Dependendo da localização e estágio da doença pode ser recomendado o tratamento cirúrgico, a radioterapia, a quimioterapia ou imunoterapia e frequentemente uma associação desses métodos visando aumentar as chances de sucesso nos índices de cura e de controle da doença. No decorrer do tratamento podem ser indicados procedimentos como traqueostomia para garantir a respiração livre e uso de sondas ou gastrostomia para assegurar a nutrição adequada.
O diagnóstico precoce é de grande importância para minimizar as sequelas associadas ao tratamento de neoplasias desta região especialmente delicada e visando maiores chances de cura. Avanços recentes tem se mostrado promissores mesmo em casos avançados no sentido de promover melhor qualidade de vida, estabilização da doença e controle dos sintomas.
Dr. Regis M. Scheffer Szeliga
Cirurgião de Cabeça e Pescoço
55 41 999750449