Postado em 4 de novembro de 2019
 Categoria Saúde

Apesar das mulheres serem diretamente afetadas pelo câncer de mama, o sofrimento e mudanças vivenciadas durante o diagnóstico e tratamento, atinge toda a família, que passa por momentos de dúvidas e incertezas em relação ao futuro. Por esta razão o câncer precisa ser encarado como uma doença social, que impacta a família e, em especial, os relacionamentos conjugais.

Na maioria das vezes os maridos e companheiros também se veem perdidos em seus próprios sentimentos e sensação de impotência frente ao sofrimento de sua companheira, optando por recuar ou fugir por falta de suporte emocional ou mesmo informação em relação ao tratamento.  Estudos americanos apontam que a mulher tem seis vezes mais chances de ser abandonada pelo marido após a descoberta de uma doença grave.

Para entender as razões que levam o homem a não suportar o baque de um diagnóstico de câncer de mama, é importante analisar as particularidades construídas socialmente em relação à mulher e ao homem.

Por uma questão cultural, o homem é educado e estimulado a não demostrar suas fragilidades, precisa constantemente dar provas de sua masculinidade como o provedor e não cuidador, afinal, “homem não chora”. Quando se veem tendo que assumir este papel em uma situação que não dominam e na qual o risco de fracasso é alto, acabam recuando.

Já a mulher é ensinada desde muito cedo a ocupar o papel de cuidadora. Inicialmente, de suas bonecas, para em algum momento se dedicar ao marido, filhos e em muitos casos o cuidado dos pais já em idade avançada. Assim, cuidar de seu companheiro no caso de uma enfermidade, não traz mudanças tão grandes para sua realidade.

Para além das questões culturais, o que observo ao longo destes anos atendendo mulheres com câncer de mama é que a separação, na maioria dos casos, ocorre quando a relação já esta desgastada. O câncer nem sempre pode ser apontado como a causa da separação, mas como um gatilho que acaba evidenciando problemas existentes anteriormente no relacionamento.

Outra questão para se refletir, é que muitas vezes a própria mulher acaba afastando seu companheiro pela dificuldade de lidar com a doença e perdas que ela traz. Por esta razão é importante que durante o tratamento ela também permita que seu parceiro esteja ao seu lado, se sinta inserido em seu tratamento.

É de grande relevância que cada mulher possa descobrir, ao lado de seu parceiro, formas de manter a intimidade. Não há duvida que, inicialmente, a sexualidade fica muito comprometida. Todavia, o diálogo tem papel fundamental neste processo, pois quando não há comunicação, não há intimidade.

Cabe também aos profissionais da área de saúde envolver os homens durante o tratamento, entendendo que também necessitam de acolhimento, amparo, informações e um espaço para compartilhar dúvidas e incertezas. Compreender os procedimentos em relação ao tratamento de sua companheira é a possibilidade de vivenciar este momento com maior segurança e consequentemente, atenuar o medo de perdê-la.

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